
Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Escrever, por exemplo: «A noite está estrelada,
e tiritam, azuis, os astros lá ao longe.»
O vento da noite gira no céu e canta.
Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Eu amei-a, e por vezes ela também me amou.
Em noites como esta tive-a eu nos meus braços.
Beijei-a tantas vezes sob o céu infinito.
Ela amou-me, por vezes eu também a amava.
Como não ter amado os seus grandes olhos fixos.
Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Pensar que não a tenho. Sentir que a perdi já.
Ouvir a noite imensa, mais imensa sem ela.
E o verso cai na alma como no pasto o orvalho.
Importa lá que o meu amor não pudesse guardá-la.
A noite está estrelada e ela não está comigo.
Isso é tudo. Ao longe alguém canta. Ao longe.
A minha alma não se contenta com havê-la perdido
Como para chegá-la a mim o meu olhar procura-a.
O meu coração procura-a, e ela não está comigo.
A mesma noite que faz branquejar as mesmas árvores.
Nós dois, os de então, já não somos os mesmos.
Já não a amo, é verdade, mas tanto que eu a amei.
Esta voz buscava o vento para tocar-lhe o ouvido.
De outro. Será de outro. Como antes dos meus beijos.
A voz, o corpo claro. Os seus olhos infinitos.
Já não a amo, é verdade, mas talvez a ame ainda.
É tão curto o amor, tão longo o esquecimento.
Porque em noites como esta a tive nos meus braços,
a minha alma não se contenta com havê-la perdido.
Embora esta seja a última dor que ela me causa,
e estes sejam os últimos versos que lhe escrevo.
Agora, ouçam!
*Pablo Neruda nasceu no Chile em 1904 e morreu em Setembro de 1973. É o poeta hispano-americano cuja obra alcançou maior difusão à escala internacional. Autor de vasta obra, influenciou fortemente muitos poetas sul-americanos. Publicou os primeiros textos no jornal La Mañana. O seu primeiro livro, Crepusculário, data de 1923, um ano antes do conhecido Vinte Poemas de Amor e Uma Canção Desesperada. Emabaixador do Chile em vários países, Neruda regressou ao seu país natal em 1943, juntando-se ao Partido Comunista. Já depois da II Grande Guerra, foi alvo da repressão policial no seu país, o qual abandonou para regressar em 1952. É o poeta de língua espanhola mais traduzido em todo o mundo.
* Hoje passa-se 35 anos da morte do grande Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Carpem Diem!
Elisabete Cunha
23/09/08
Querida Bete, esses versos dele são uma maravilha de bom. Também fiz a minha homenagem. Você já assistiu o filme, O carteiro e o poeta? É uma grande homenagem a Neruda se não viu ainda, corre pra ver. É lindo! Um beijo, querida!
que triste…
prá vc, um beijo Bete!
😉
Linda homenagem a um poeta que é maravilhoso.Parabéns!!!!
Ler Neruda. Será que há quem não goste?! Ele é tão intenso! Seus versos, tocam fundo nossa alma.
Beijo querida Elisabete.
Bete
Adoro, Neruda, nossa o tempo voa.
Beijinhos
Este início de poema do Neruda, belissimo sim, trouxe-me um outro, que não tem a ver com esta mensagem, mas que te deixo
Com um beijo grande 🙂
Pode-se escrever sem ortografia
Pode-se escrever sem sintaxe
Pode-se escrever sem português
Pode-se escrever numa língua
[sem se saber essa língua
Pode-se escrever sem saber escrever
Pode-se pegar na caneta sem haver escrita
Pode-se pegar na escrita sem haver caneta
Pode-se pegar na caneta sem haver caneta
Pode-se escrever sem caneta
Pode-se sem caneta escrever caneta
Pode-se sem escrever escrever plume
Pode-se escrever sem escrever
Pode-se escrever sem sabermos nada
Pode-se escrever nada sem sabermos
Pode-se escrever sabermos sem nada
Pode-se escrever nada
Pode-se escrever com nada
Pode-se escrever sem nada
Pode-se não escrever
Pedro Oom
Um grande da litertura universal.
A sua poesia e o amor e ternura que sempre demonstrou pela Mulher, fazem dele um poeta amado pelas mulheres e admirado pelos homens.
Um abraço. Elisabete.
Jorge P.G.
Beth,
Esta é minha preferida! E aquela…No estás deprimido, estás distraido…é muito linda também
Bjos em teu coração iluminado.
Conhece-me mais em wwwavalonbloger.blogspot.com
Adorarei tua visita!
quando estiver triste lem bri si de nsjsgdf
Me apaixonei pelo Pablo quando li sua autobiografia “Confesso que vivi”, lendo está obra você chora e ri ao mesmo tempo. Vale a pena, é linda!